As transformações do mundo corporativo

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No dia 11 de março de 2020 a OMS declarou a pandemia de Covid-19, a partir de então muitas transformações foram causadas na vida de toda a população mundial. Foram percebidas mudanças nos cotidianos, relações, consumos, saúde, comportamentos, mas uma aceleração impactante marcou, principalmente, o mundo do trabalho. 

Todas as empresas, instituições e profissionais precisaram se adaptar. O trabalho não poderia parar, portanto tecnologias foram incorporadas, trabalho remoto, cargas de horário flexíveis, inclusive, flexibilidade parece a nova regra do jogo. 

A resiliência foi uma das habilidades mais trabalhadas neste período. Isso impactou até mesmo a figura dos líderes. Aqueles que precisavam ter todas as respostas e guiar o time para um ponto certo, precisavam assumir suas fragilidades e mostrar sensibilidade com o incerto. 

Isso demonstra uma grande tendência: a humanização do trabalho. Além dos líderes estarem mais expostos, a atenção à saúde mental e ao bem-estar dos colaboradores aumentou significativamente. Segundo o estudo da Harvard Business School, que abrangeu 3,1 milhões de pessoas, mostrou que a carga de trabalho aumentou 48,5 minutos devido ao trabalho remoto. Com isso, apareceram outros números relacionados à saúde mental, como consequência. 

Como por exemplo, a pesquisa conduzida pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) constatou que cerca de 64% profissionais tiveram problemas físicos, e 75%, mentais, durante a pandemia. Segundo a mesma pesquisa, os principais afetados foram mulheres e pais de crianças pequenas, mais propensos a transtornos mentais quando trabalham em casa, uma vez que o isolamento é um fator primário para depressão e ansiedade. 

Uma pesquisa realizada pelo LinkedIn apontou que 62% das pessoas estão mais ansiosas e estressadas com o trabalho do que estavam antes da introdução das atividades remotas. E que 72% dos jovens profissionais sentem que a pandemia prejudicou o aprendizado de habilidades comportamentais, como a comunicação e a inteligência emocional. [fonte revista Galileu].

Já afunilando os dados para o Brasil, também é notável as consequências relacionadas a doenças mentais. Segundo a plataforma especializada em saúde emocional, Zenklub, registrou uma alta de 151% nas sessões de terapia no primeiro semestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. E que nos seis primeiros meses de 2021, foram mais de 50 mil consultas. Nessas sessões on-line, as menções aos problemas de saúde mental tiveram alta de 1.745%.

Com os números alarmantes dos primeiros anos de pandemia, houve a necessidade de uma atenção maior nessa área, principalmente pelos profissionais de Recursos Humanos. Muitos departamentos aderiram o uso de sistemas de suporte aos colaboradores, além de incentivos a programas pensados para o bem-estar, como encontros on-line mais informais para interação das pessoas, aproximação do trabalho com a família e até mesmo benefícios como palestras e workshops de meditações e mindfulness, ou ajuda de custo para acompanhamentos terapêuticos. 

Equilíbrio entre vida profissional e pessoal

Essa preocupação com a saúde mental salientou a importância de manter hábitos saudáveis e, especialmente, o home office mostrou a relevância em equilibrar a vida profissional da pessoal. O que também colocou em pauta a discussão de semanas mais curtas de trabalho. 

Pensando que a semana de trabalho de 40 horas surgiu durante a Revolução Industrial (1760 – 1840), e que agora conta-se com aparelhos tecnológicos, videoconferências, e muitas ferramentas on-line, é preciso repensar o formato. Muitos especialistas sugerem cargas semanais de quatro dias. 

Esse modelo já vem sendo testado por empresas da Islândia, da Nova Zelândia, do Japão e da Espanha, e segundo pesquisa constatou que 100% dos colaboradores ficaram satisfeitos e entregaram todas as tarefas dentro dos prazos e que a produtividade foi a mesma ou melhorou na maioria dos locais de trabalho. 

No Brasil, em termos legais a carga horária reduzida é permitida. Não existe nenhum impedimento, e pode ser visto como positivo visando a produtividade, descanso mental, menos despesas para as empresas que ainda adotam trabalho presencial ou híbrido, mais satisfação e engajamento do empregado, redução do absenteísmo, pois o colaborador não precisa se ausentar tanto para resolver questões pessoais, como consultas médicas, podendo fazer em seu período de folga e até mesmo maior inclusão de profissionais 50+, por conseguirem exercer melhor suas funções em períodos mais curtos de trabalho. 

No entanto, pela cultura econômica do brasileiro, poderiam aparecer jornadas duplas de trabalho com mais frequência, como os bicos, por exemplo, excluindo o principal benefício que seria o descanso e ainda poderia privilegiar um pequeno grupo de profissionais administrativos, mais qualificados, prejudicando trabalhadores que contam com remuneração por hora ou que não possuem segurança contratual. O que acarretaria em mais desigualdade social. Por isso essa é uma questão tão séria, discutida há alguns anos, e que não parece ser uma realidade tão próxima para o Brasil. 

A importância do olhar para a sociedade 

A reflexão é válida para dar destaque para a necessidade de ter um olhar plural e dinâmico para a sociedade como um todo e também para uma outra grande tendência no mundo do trabalho atual: diversidade e inclusão. Assim como no Brasil existem peculiaridades bem específicas, o trabalho de lideranças e áreas de Recursos Humanos precisa estar voltado para práticas de contratação de minorias e minorizados, inclusive em programas exclusivos como vagas para profissionais negros, por exemplo, e também para ações que englobem estratégias de pertencimento, permitindo que os colaboradores – com deficiência ou não – se sintam integrados e estimulados no ambiente corporativo. 

Assim como há grande preocupação com a diversidade geracional no ambiente de trabalho, como agregar atitudes, pensamentos, experiências, conhecimentos de diferentes gerações para criar estratégias pertinentes a uma sociedade que demanda tais atitudes, afinal, nunca na história da humanidade quatro gerações (boomers, gerações X, Y, Z) compartilharam o mesmo ecossistema organizacional. 

O novo papel do líder

Esse cuidado precisa estar entre os valores da empresa e ser praticado, especialmente, pelos líderes que poderão causar consideráveis mudanças nos cotidianos dos colaboradores e assim provocar a transformação da organização. Já é comprovado que a diversidade torna as equipes mais inovadoras. É preciso entender que além de investir em conscientização do público interno, deve-se adotar uma postura proativa e sustentável em torno do assunto. 

A questão está intrinsecamente ligada à cultura da empresa, e hoje, mais do que nunca, pode-se perceber a força que uma cultura corporativa bem consolidada tem em meio a incertezas e adversidades. De acordo com a Pesquisa Global de Cultura Organizacional 2021, da PwC, para 69% das lideranças empresariais a grande parte do sucesso obtido nos negócios durante a pandemia está atrelado aos valores e ao ambiente interno das organizações. 

A cultura da empresa ficou em foco nos últimos anos, ela foi a bússola para desmembrar as ações que precisavam ser imediatas. Muitas vezes traduzida para “a forma como as coisas são feitas por aqui” ou “o que as pessoas fazem quando ninguém está olhando”, ela foi essencial para manter o desempenho e envolvimento dos colaboradores. Assim como os líderes que conduziram esse processo. 

Uma boa liderança regada a comunicação clara, empatia, relacionamento aberto e segurança transmitida foram são determinantes para a boa atuação dos colaboradores frente às mudanças. O gerenciamento por videoconferências, diferentes formas de monitoramento, construções de novas relações e formas de feedback, transformaram – de forma definitiva – como a satisfação do colaborador é percebida. 

Os desafios impostos pela crise sanitária revelaram que as lideranças precisam estar, acima de tudo, prontas para situações inesperadas e atentas às necessidades dos colaboradores. A clara demanda por organizações mais humanas, que observem os indivíduos com empatia, equidade e respeito podem ser consideradas o “novo normal”, o que traz um olhar otimista, com esperança de ambientes de trabalhos agradáveis e mais felizes para se trabalhar. 

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