O mundo ainda se encontra em um dilema sobre o modelo remoto, presencial ou híbrido de trabalho. Enquanto muitos líderes ainda veem o modelo presencial como mais efetivo, muitos colaboradores dizem preferir o remoto ou híbrido para equilibrar vida pessoal e profissional.
As gigantes americanas de tecnologia estão fazendo a volta para o presencial nas últimas semanas, mesmo que esse presencial seja dividido em alguns dias, como por exemplo a Apple que exigiu que os colaboradores estivessem nos escritórios pelo menos um dia na semana a partir de 11 de abril, e depois de 23 de abril, três vezes por semana.
Para fazer uma volta com grande estilo, a Apple recebeu seus colaboradores com festa, comida e degustação de vinhos. Já o Google contratou um show com a popstar Lizzo para recepcionar os funcionários em Mountain View, na Califórnia. Enquanto a Qualcomm realizou um happy hour com seu presidente-executivo, Cristiano Amon, em seus escritórios em San Diego para milhares de colaboradores com comidas, bebidas e camisetas gratuitas. Assim como a Microsoft, que reabriu seus escritórios em Redmond, Washington, no final de fevereiro, e recebeu seus funcionários com música de bandas locais, degustação de cerveja e vinho, e até aulas para fazer terrários.
Segundo Adam Galinsky, professor de administração da Universidade de Columbia em Nova York, “Essas celebrações e regalias são um reconhecimento por parte das empresas de que elas sabem que os funcionários não querem voltar ao escritório, certamente não com a frequência de antes”, afirmou Galinsky ao The New York Times.
Essa aparente insatisfação já foi até exposta pelo Diretor de Machine Learning da Apple, Ian Goodfellow, que pediu demissão por causa da política de retorno ao trabalho da empresa, de acordo com a repórter do The Verge, Zoë Schiffer.
Ian Goodfellow, que estava na Apple desde o início de 2019, de acordo com seu perfil no LinkedIn, escreveu para sua equipe para dar a notícia. “Acredito fortemente que mais flexibilidade teria sido a melhor política para minha equipe”. Além disso, uma pesquisa da Blind, demonstrou que 56% dos funcionários da Apple estão procurando emprego em outro lugar.
Em contraponto, para Brian Chesky, CEO do Airbnb, trabalhar no escritório agora é uma relíquia do passado. Em uma entrevista para o The Leadership Brief, da Time, Chesky disse acreditar que o escritório era “uma forma anacrônica” e “de uma era pré-digital”. Seus comentários vieram depois que o Airbnb anunciou que permitiria que os funcionários trabalhassem remotamente para sempre sem corte salarial, citando a capacidade de ampliar seu pool de talentos e acrescentando que a empresa teve seu período de dois anos mais produtivo enquanto trabalhava remotamente.
“Acho que o escritório como o conhecemos acabou”, Brian Chesky à Time. “Não podemos tentar segurar 2019 mais do que 1950. Temos que seguir em frente.” E ainda Chesky disse que logo após anunciar que o Airbnb seria totalmente remoto, a página de carreiras da empresa recebeu mais de 800.000 visualizações.
Evidentemente o retorno aos escritórios traz sentimentos mistos, mas para os brasileiros pode não ser uma questão de escolha. Apesar dos números de demissões terem aumentado, em março bateram recorde de demissões voluntárias no Brasil, sendo 603.136, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do IBGE, muitos colaboradores precisam se adaptar aos regimes que as empresas impõem. E como conseguir administrar essa nova realidade?
Não há um formato correto e único para todas as empresas, mas de qualquer forma, as decisões tomadas pelas lideranças, em conjunto com os RHs, precisam ser coerentes e ponderadas. Especialistas indicam muito diálogo e análises de possibilidades produtivas para todos, como Betina Corbellini, Vice-presidente de RH, da Mondelez Brasil, no Programa Gestão de Pessoas, da Foursales.
Os protocolos de segurança ainda precisam ser mantidos, e é evidente a preocupação da saúde mental dos colaboradores mais do que nunca. As mudanças demandam estratégias e planos de ações fundamentadas em processos que considerem as peculiaridades de cada empresa, segmento, cultura, objetivos e muita escuta ativa com os colaboradores.
Vai muito além de uma simples volta, há toda uma adaptação envolvida, quando se considera filhos que estavam com os pais mais presentes e até mesmo animais de estimação que podem sofrer consequências. A disciplina que a volta da rotina presencial exige, o costume de manter relações interpessoais mais próximas, o enfrentamento do deslocamento, trânsito, mais gastos com gasolina e alimentação e até mesmo medo da violência nas ruas.
“Vamos precisar de tolerância, com os outros e conosco. A vida dentro de casa se acomodou de tal maneira que é como se estivéssemos desacostumados a compartilhar e negociar nossos costumes, modos de expressão, de afetos e contrariedades”, explica o psicanalista Christian Dunker, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), para a Exame.
E para você? Qual modelo de trabalho tem a sua preferência? Deixe seu comentário.