Tendo em vista a crise gerada pelo Coronavírus, a Foursales Group lançou uma campanha com o objetivo de ajudar gestores de RH e empresários à superarem este momento tão complexo, a campanha #ContaConosco. Para isso, estamos produzindo semanalmente materiais altamente relevantes para o cenário atual – de artigos e ebooks até webinars com os maiores executivos de RH do país. Nesta semana recebemos Patrícia Bobbato para uma entrevista sobre gestão de pessoas em tempos de crise. Neste artigo você poderá conferir um resumo dos principais tópicos da conversa, que também está disponível na íntegra em nosso youtube (aqui).
Contexto atual da crise do Coronavírus na Tigre Tubos e Conexões
O ano de 2020 vinha carregado com muitas expectativas para a Tigre, segundo Patrícia, graças aos bons resultados de 2019. Por conta disso, a chegada do Coronavírus ensejou em uma avalanche de mudanças e uma alteração quase completa do planejamento estratégico.
O papel do gestor de RH neste contexto é estar presente, tendo um olhar atento tanto às pessoas neste momento crítico, cabendo ao RH ser o contraponto na gestão de pessoas, buscando alternativas que possibilitem a redução de gastos mas sempre levando em conta o papel social da empresa, o impacto das decisões nos trabalhadores e a sustentabilidade do negócio pós-crise.
Medidas sobre a crise adotadas
O foco da Tigre neste primeiro momento da crise tem sido preservar a saúde dos colaboradores, reagindo rapidamente às mudanças no cenário com decisões assertivas e transparente. Patrícia destaca algumas medidas adotadas globalmente pela Tigre:
- Dispensa de todo o administrativo para home office, de jovens aprendizes até o presidente, mesmo em países ainda não afetados de forma aguda pelo vírus;
- Criação de um comitê de crise e fornecimento de boletins diários sobre ações na empresa e status importantes acerca do cenário;
- Redução de jornada e de salários. Até o cargo de coordenador, redução de 25%. Para cargos acima dos coordenadores, redução maior e proporcional à remuneração até o presidente da empresa;
- Pausa em algumas fábricas, com tomada de estoque antes da pausa para garantir abastecimento ao cliente;
- Nas fábricas que ainda estão ativas, como por exemplo no Paraguai, medidas de segurança redobradas e reorganização de setores da planta para respeitar a distância de pelo menos 1,5m entre as pessoas;
- Criação de ações remotas de desenvolvimento organizacional, como webinars, rodas de conversa e até mesmo ginástica laboral remota.
O cenário de grande instabilidade desta crise é o que a difere das demais, para Patrícia. Com isso a necessidade de uma comunicação transparente, focada na gestão de pessoas, e honesta se torna ainda maior, como explorado na seção a seguir.
Comunicação corporativa de temas críticos
Bobbato destaca que uma comunicação honesta e transparente é a melhor opção na hora de conduzir a implementação de medidas impopulares neste cenário de crise. Para ela, o principal erro de um gestor de RH neste momento é estar longe do negócio e não ser transparente.
Para fomentar este tipo de comunicação, a Tigre desenvolveu e forneceu aos líderes um guia de comunicação, com orientações sobre como dar informações à equipe, principais dúvidas e como abordá-las. Além disso, buscando reforçar o senso de unidade e de cooperação no cenário atual, Bobbato afirma que a empresa promoveu também uma conversa online com o presidente.
O papel do líder em cenários tão conturbados como o atual é engajar a equipe, mantê-los informados do andamento das decisões e cultivar o senso de coletividade. Para Bobbato, cultivar nos colaboradores a percepção de que todos estão juntos no processo é fundamental, e a Tigre vem realizando este trabalho há mais de cinco anos. Na Tigre, este trabalho de transformação cultural já acontece há cinco anos. O papel do RH é oferecer fazer o contraponto e oferecer o suporte para que isso aconteça, mas cabe aos gestores e lideranças executarem esta transformação cultural.
Conscientização de lideranças
Os líderes precisam ser os grandes apoiadores dos processos anti-crise, afirma Bobbato. Gestores comunicativos, diretivos e que acompanham o desenvolvimento da equipe de perto são fundamentais para a gestão de pessoas em momentos críticos como este.
Estar distante das pessoas, se apegar ao microgerenciamento e se distanciar do negócio são erros profundos que as empresas devem evitar cometer no que tange lideranças no momento. É a hora do lidar ouvir sua equipe, cultivar confiança e desenvolver novos processos.
Para Patrícia, o RH não precisa tomar a frente nos processos, mas sim costurar os processos criados pelas lideranças para que eles aconteçam muito bem. Quando o gestor de RH desempenha bem seu papel, os líderes tem o suporte e o desenvolvimento necessário para trabalhar as equipes e desenvolver novos processos, mesmo em tempos de crise.
Redução de jornada
Uma das principais ferramentas de gestão de crise adotadas pelo RH da Tigre Tubos e Conexões tem sido a redução da jornada de trabalho. Patrícia esclarece também que no início do surto de Coronavírus todos os trabalhadores do grupo de risco receberam férias.
Além disso, a Tigre tem adotado o banco de horas e o adiantamento de feriados como medidas complementares. Com a adoção de uma comunicação transparente, a empresa encontrou pouca ou nenhuma resistência na adoção destas medidas. No caso de uma possível resistência, Bobbato aconselha novamente o diálogo e a empatia na gestão de pessoas, destacando a necessidade de se compreender o que causa a resistência e estudar medidas complementares de renda, por exemplo.
Um ponto positivo inesperado da redução de jornada, destaca ela, foi a busca pela priorização de demandas. Com o menor tempo disponível, diversos setores se viram obrigados a replanejar atividades e entender o que realmente é prioridade no cenário atual e futuro.
Suspensão do contrato de trabalho e programas de demissão
No caso de medidas mais pesadas, como suspensão do contrato de trabalho e possíveis programas de demissão, Patrícia sinaliza que não estão no rol de medidas da gestão de pessoas da Tigre, mas reforça o diálogo como fundamental no processo de adoção das mesmas.
Para ela, o papel do RH neste momento é buscar as alternativas para que a suspensão ou as demissões não sejam necessárias e, caso sejam, entender de forma estratégica e humana como abordar a questão. No caso da suspensão, Bobbato destaca ainda a necessidade da empresa estudar formas de amenizar o estresse financeiro dos colaboradores – ou se apoiando em medidas governamentais, ou iniciativas internas de renda complementar.
Em um possível cenário de demissão coletiva, as principais orientações são:
- Análise profunda do cenário e busca de alternativas que não envolvam a demissão;
- Estabelecimento de um plano de ação completo, buscando entender quantas pessoas precisam ser desligadas e de quais setores;
- Estudo do impacto dos desligamentos à médio e longo prazo tanto para a empresa quanto para o município em que ela está inserida;
- Fornecimento de outplacement para funcionários desligados.
Bobbato destaca ainda a necessidade de medidas como a suspensão do contrato e até mesmo a redução de jornada serem coletivas: todos na empresa adotam. Isso reforça a isonomia entre colaboradores e o senso de que todos estão juntos na tarefa de superar a crise.
Home office: ferramentas, protocolos e como manter o senso de equipe no trabalho remoto
Com a adoção do home office por cada vez mais empresas, Bobbato sinaliza que o principal desafio na gestão de pessoas é, em múltiplos aspectos, a liderança. Neste momento o líder precisa ter confiança na equipe e se distanciar do microgerenciamento. Para incentivar isso, a Tigre montou um guia de boas práticas de home office para gestores e colaboradores. Alguns dos principais pontos são:
- Se fazer presente, optar quando possível por videochamadas com a câmera ligada, criando a sensação de proximidade;
- Realizar reuniões diárias, acompanhar o trabalho sem microgerenciar;
- Manter a periodicidade nos check ins, criar uma rotina mesmo em home office;
- Ter momentos de conversa para conforto psicológico, entender o momento das pessoas;
- Manter uma jornada normal de trabalho, incentivando pausas sempre que necessário;
- Utilizar serviços de mensagem apenas para comunicação rápida, optando pelo telefone ou videoconferência para assuntos mais longos;
- Em casos de ociosidade, buscar alternativas de aprimoramento do time via EAD e treinamentos remotos.
Bobbato destaca ainda o papel da empatia e de líderes capazes de se colocar no lugar do outro neste momento. Em suas palavras, a crise e a adoção em massa do home office estão desmontando paradigmas da “máscara corporativa” – bons líderes precisam ouvir, entender e colaborar para a solução das dificuldades diárias do seus times remotos.
Além destas medidas, a Tigre também segue acompanhando o clima organizacional com check ins frequentes e estuda adotar uma pesquisa rápida diária para ter um termômetro do clima da empresa. Patrícia ressalta que o novo modelo remoto pede adequações também nas iniciativas de engajamento planejadas pelo RH, com maior ênfase em webinars, lives e outras estratégias para realização de team building.
Conclusão
A crise gerada pelo Coronavírus tem quebrado muitos paradigmas e promete gerar impactos duradouros nas organizações. Quando questionada sobre que adaptações os gestores de RH podem encabeçar em suas empresas para prepará-las para estas mudanças, Bobbato destacou alguns pontos, começando pelo estabelecimento de uma comunicação eficiente, transparente e honesta. Neste cenário, o papel de um líder comunicador se torna muito importante, com gestores próximos, empáticos e transparente tomando um lugar de destaque que vem para ficar.
Como segundo ponto ela enfatiza também a necessidade da empresa entender quais as pessoas que ela realmente precisa, com ênfase na meritocracia. O atual momento vem para mostrar quais colaboradores estão realmente alinhados com a empresa e seus objetivos, e este aprendizado deve se propagar para além da crise.
Para a Tigre, um dos grandes aprendizados desta crise será também a rápida tomada de decisões, resultado da maior coesão dos times. A crise mostrou como reagir em cenários complexos e incertos, e que mesmo questões críticas podem receber decisões rápidas, e Patrícia afirma que o momento ensinou que “não dá para procrastinar decisões.”.
Seguindo esta lógica, é papel do RH também olhar para além da crise e entender o cenário em médio e longo prazo das decisões. Bobbato destaca a necessidade de gestores de RH entenderem como, dentro de suas empresas, ligar engajamento dos colaboradores com a geração de resultados durante um tempo de crise, mas olhando sempre para o futuro.
Como lição final, ela destaca um mindset que serve de aprendizado hoje e para o futuro: “o problema não é meu, mas a responsabilidade é. Precisamos parar de olhar com a barra pra baixo e olhar com a barra pra cima. Não posso fazer nada sobre o Coronavírus, mas eu posso fazer sim em relação ao meu trabalho. Então é a hora de tentar novas alternativas. Hoje não tem mais desculpa.”.
Sobre o Foursales Entrevista e a campanha Conta Conosco
O “Foursales Entrevista” conversa semanalmente com as principais lideranças de RH da América Latina para compartilhar boas práticas de gestão de pessoas. Ele faz parte da campanha Conta Conosco, uma iniciativa Foursales e Bynd para apoiar gestores e empresários durante a crise gerada pelo Coronavírus.
Assista as entrevistas passadas em nosso YouTube (aqui). Para receber o calendário de webinars e materiais exclusivos, basta clicar no banner abaixo e se inscrever na campanha: